É no rumo da desmistificação dos conceitos arraigados sobre TV e criança que Cláudio Magalhães envereda, enriquecendo um debate que, em geral, peca pelo maniqueísmo. Sua tarefa começa na própria definição de “programa educativo”, analisada aqui em todas as suas fragilidades, para demonstrar-se limitada e imprecisa. Avança pela evolução histórica da televisão educativa, flagrando as incoerências atuais entre discurso e prática de um modo de produção, que afirma repudiar as injunções do mercado, mas que cada vez mais busca no financiamento da publicidade comercial o lastro econômico para sobreviver. E culmina no exame detalhado de dois produtos exemplares – “Castelo Rá-Tim-Bum” e “TV Xuxa” -, extraindo de sua dissecação uma certeza: a de que educação e diversão podem coexistir na televisão infantil, seja ela estatal ou privada, e que a fórmula ideal talvez esteja no equilíbrio desses elementos. Repleto de informações úteis e de interpretações ricas, este livro tem uma vantagem adicional: é obra de autor “anfíbio”, imerso simultaneamente na prática televisiva e na reflexão acadêmica. Ao contrário de tantos trabalhos que demonizam a TV e quem a faz, este pode – e deve – ser lido por quem quer compreendê-la bem, para fazê-la melhor. (Gabriel Priolli)